terça-feira, 17 de março de 2009

A POUPANÇA, A GASTANÇA E A DÍVIDA

Reinaldo Azevedo mais uma vez acerta na mosca ao apontar o já manjado "modus operandi" petista nessa historia de mexer na poupança.


Por Reinaldo Azevedo


Todas as ações do petismo, e essa conversa sobre a poupança não é diferente, são anunciadas de forma embaralhada: com cortina de fumaça, contrabando ideológico e retórica de quinta, opondo os "rícu" — no caso, leia-se a classe média — aos "póbri”. No fundo, a lambança tem um objetivo: esconder a própria incompetência ou abster-se do ônus de governar em tempos difíceis.

Em janeiro do ano passado (pouco mais de um ano atrás), o governo Lula anunciou, com pompa, mudanças nas regras da caderneta de poupança. Naquela ocasião, esse investimento registrava sua menor rentabilidade em dez anos (sempre lembrando que já havia atuado em 2007 para baixar a sua remuneração – ver post abaixo). No ano passado, para proteger os pequenos poupadores, os pobres, os desvalidos, o CMN alterou o cálculo da TR para garantir uma remuneração mínima de 0,5% ao mês, o piso previsto, diga-se, em uma lei de 1991 e que corria o risco de ser atropelado pelas taxas naturais do mercado.

Faziam aquilo para proteger o poupador, certo? Agora pensam em fazer justamente o inverso e anunciam que pretendem... proteger o poupador!!! Lula está sempre ajudando o povo: quando faz uma coisa e também quando faz o seu contrário.

Mas por que mudar a poupança agora? O que aconteceu na verdade? É que a crise está aí, com o despertar súbito e tardio do governo para a necessidade de reduzir freneticamente a Selic — o que antes parecia ser um pecado de lesa economia. A poupança está rendendo 0,64% ao mês, e os fundos, descontado o Imposto de Renda, 0,55%. A poupança se tornou mais atraente frente à remuneração dos fundos de investimentos, atrelados a uma Selic em queda.

A classe média, coitada!, tende, então, a tirar dinheiro dos fundos de investimento e a colocar na poupança. Mas qual é o problema? Por que ela não pode fazer isso? É pecado? É errado? Não! O problema é que, em última análise, o governo não terá como rolar sua enorme dívida interna sem voltar a elevar os juros. E os juros têm de cair. Sim, é com o dinheiro dos fundos, da classe média, que o governo alimenta a gastança pública. Alguém pensou em reduzir gastos nesse tempo? Não! Todo o esforço foi para elevá-los.

Mas o Brasil não tinha atingido o nirvana? Não havia solucionado o problema do déficit externo e ainda afugentado, por tabela, o risco de não rolar sua dívida interna? Os investidores externos não haviam se apaixonado tanto pelo país que jogavam dinheiro quase de helicóptero? É... Essa fase acabou — e muita gente alertou para o seu fim. Enquanto ela durou, o governo não reduziu seus gastos nem os juros. Agora é obrigado a fritar o peixe (reduzir a Selic) e olhar o gato (tungar a poupança). A vesguice custa caro. E o poupador pode ter de pagar.

É ilegal mexer na poupança? Boa coisa não é. Existe a tal lei de 1991 prevendo essa remuneração de 0,5% ao mês. Governos, de vez em quando, mexem na remuneração dessa modalidade de investimento. Alguns legalmente. Outros nem tanto. Lula disse em Nova York que pretende alterar as regras de maneira a proteger o pequeno poupador — e, suponho, atrapalhar a vida da classe média. O que ele quer dizer com isso? A menos que vá criar uma Taxa Zelite e uma Taxa Povão, todos ganharão menos igualmente. Em 2007, quando caiu a remuneração, o “povo” que cobrou a mudança mais enfaticamente é aquele que faz passeata nos corredores da Frebaban. Eesse “povo” também não vê muita graça na migração do dinheiro dos fundos para a poupança.

E, claro, não deixarei, como sempre, de, estando neste ponto, dar uma espiadela na política. Já imaginaram um PT na oposição, com, sei lá, os tucanos e os democratas ameaçando reduzir os ganhos da poupança para “proteger” os poupadores? “Ah, Reinaldo, dado o que se tem aí, é o melhor a fazer”. É? Ainda que seja, é preciso chamar as coisas pelo seu nome.
|

Nenhum comentário: