sexta-feira, 27 de março de 2009

A intolerância bíblica


Quero enfatizar esta verdade, asseverando que existe, na fé cristã, um lado de intolerância. Vou mais além e afirmo que, se não temos visto este lado intolerante da fé, provavelmente nunca vimos verdadeiramente a fé.
Existem muitos mandamentos nas Escrituras que substanciam a afirmativa de que colocar mais alguém ao lado de Jesus, ou falar de salvação à parte dEle, ou sem que Ele seja o centro dela, é traição e negação da verdade. O apóstolo Pedro, dirigindo-se ao sinédrio em Jerusalém, disse: "porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At.4:12).

Todo falso ensinamento deve ser odiado e combatido. O Novo Testamento nos diz que assim fez nosso Senhor e todos os apóstolos, e que eles se opuseram e advertiram as pessoas contra isso.

Mas pergunto novamente: isto é realizado hoje? Qual sua atitude pessoal quanto a isso? Acaso é você uma daquelas pessoas que diz que não há necessidade dessas negativas, e que deveríamos estar contentes com uma apresentação positiva da verdade? Subscrevemos o ensinamento prevalecente que discorda de advertências e críticas ao falso ensinamento? Você concorda com aqueles que dizem que um espírito de amor é incompatível com a denúncia crítica e negativa dos erros gritantes, e que temos de ser sempre positivos? A resposta mais simples a tal atitude é que o Senhor Jesus Cristo denunciou o mal e os falsos mestres. Repito que Ele os denunciou como "lobos vorazes" e como "sepulcros caiados" e como "guias cegos". O apóstolo Paulo disse de alguns deles: "o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia". Esta é a linguagem das Escrituras.

Pode haver pouca dúvida, mas a Igreja está como é hoje porque não seguimos o ensinamento do Novo Testamento e as suas exortações, e nos restringimos ao positivo e ao assim chamado "Evangelho simples", e fracassamos em acentuar negativas e críticas. O resultado é que as pessoas não reconhecem o erro quando se defrontam com ele. Aceitam aquilo que aparenta ser bom, e se impressionam com aqueles que vem às suas portas falando da Bíblia e oferecendo livros sobre a Bíblia e profecias e coisas deste tipo. E eles, na condição de sua ignorância infantil, freqüentemente ajudam a propagar o falso ensinamento, porque não conseguem ver nada de errado nele. Além disso não compreendem que o erro deve ser odiado e denunciado. Eles imaginam-se a si mesmos cheios de um espírito de amor, são iludidos por satanás, a fera destruidora que estava no encalço delas, e que, num bote súbito, os agarrou com sua esperteza e sutileza.

Não é agradável ser negativo; ter que denunciar e expor o erro não dá alegria. Mas qualquer pastor que sinta, em pequena medida, e com humildade, a responsabilidade que o apóstolo Paulo conhecia num grau infinitamente maior pelas almas e o bem estar espiritual de seu povo, é forçado a fazer estas advertências. Isto não é desejado nem apreciado por esta moderna geração moralmente fraca. Muito amiúde a bancada tem controlado o púlpito e grande dano tem sobrevindo à Igreja. O apóstolo adverte a Timóteo que virá um tempo em que as pessoas "não suportarão a sã doutrina". Este é freqüentemente o caso no tempo presente, e assim tem sido durante este século. Por isso é importante que cada membro deva ter uma concepção real da Igreja e do ofício do ministro em particular.

Hoje há no mundo igrejas que na superfície parecem ser igrejas florescentes. Multidões se agregam a elas e demonstram demasiado zelo e entusiasmo. Mas num exame mais acurado descobre-se que a maior parte do tempo é tomado por música de vários tipos, e com clubes e sociedades e atividades sociais. O culto começa e tem que terminar exatamente
uma hora depois, e haverá sérios problemas se isso não ocorrer! Há apenas uma breve "reflexão" de quinze minutos, vinte minutos no máximo. O infeliz ministro, se não enxergar estas coisas com clareza, teme ir contra os desejos da maioria. Sua sobrevivência depende dos membros da igreja, e o resultado é que tudo é feito para se conformar aos desejos e anseios da congregação.

Mas deixe-me acrescentar que o ministro também não pode impor. É o próprio Senhor quem determina, Aquele que está assentado à mão direita de Deus e que deu "alguns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores" (Ef.4:11). Ele os deu para a edificação dos membros da Igreja, e é a mensagem dELE que deve ser pregada sem temor nem favor. Precisamos recuperar algo do espírito de John Knox cuja pregação fazia tremer a Maria, rainha dos Escoceses.

O trabalho do ministro é edificar o corpo de Cristo. A ocupação do ministro é edificar a Igreja, não a si mesmo! Eles têm muito freqüentemente edificado a si mesmos, e temos lido de príncipes da igreja vivendo em posições de grande pompa e riqueza. Isto é uma gritante deturpação dos ensinamentos de Paulo! Observemos que os ministros são chamados para edificar, não para agradar nem entreter. O modo pelo qual deveriam fazer isso está resumido perfeitamente naquela passagem, imensamente lírica, de Atos 20. O apóstolo Paulo está se despedindo dos presbíteros da igreja de Éfeso, à beira mar, e eis o que ele diz: "Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à Palavra da Sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados" (v.32). "Palavra da Sua graça, que tem poder para vos edificar"! Não é surpresa que a igreja seja o que é hoje, pois lhe têm sido dados filosofia e entretenimento. Por meio delas um ministro pode, por enquanto, atrair e segurar uma multidão; mas não pode edificar; a tarefa dos pregadores é edificar, não atrair multidões. Nada edifica a não ser a Palavra de Deus sem adulteração. Não há autoridade fora dela; e ela não pode de modo algum ser modificada ou nivelada para se adaptar à moda da ciência moderna, ou a alguns supostos "resultados confirmados da crítica" que está sempre em modificação. É o "eterno Evangelho" e é: a "Eterna Palavra" a mesma que Paulo e os demais apóstolos pregaram, a mesma Palavra que os Reformadores protestantes pregaram, os Puritanos, e os grandes pregadores de duzentos anos atrás, como também Spurgeon no último século, sem qualquer modificação que fosse. É pelo fato de isso ter sido tão amplamente esquecido nos últimos cem anos que as coisas hoje estão como estão.

D. M. Lloyd-Jones
Fonte: Jornal "Os Puritanos" Ano III No. 3

terça-feira, 17 de março de 2009

A POUPANÇA, A GASTANÇA E A DÍVIDA

Reinaldo Azevedo mais uma vez acerta na mosca ao apontar o já manjado "modus operandi" petista nessa historia de mexer na poupança.


Por Reinaldo Azevedo


Todas as ações do petismo, e essa conversa sobre a poupança não é diferente, são anunciadas de forma embaralhada: com cortina de fumaça, contrabando ideológico e retórica de quinta, opondo os "rícu" — no caso, leia-se a classe média — aos "póbri”. No fundo, a lambança tem um objetivo: esconder a própria incompetência ou abster-se do ônus de governar em tempos difíceis.

Em janeiro do ano passado (pouco mais de um ano atrás), o governo Lula anunciou, com pompa, mudanças nas regras da caderneta de poupança. Naquela ocasião, esse investimento registrava sua menor rentabilidade em dez anos (sempre lembrando que já havia atuado em 2007 para baixar a sua remuneração – ver post abaixo). No ano passado, para proteger os pequenos poupadores, os pobres, os desvalidos, o CMN alterou o cálculo da TR para garantir uma remuneração mínima de 0,5% ao mês, o piso previsto, diga-se, em uma lei de 1991 e que corria o risco de ser atropelado pelas taxas naturais do mercado.

Faziam aquilo para proteger o poupador, certo? Agora pensam em fazer justamente o inverso e anunciam que pretendem... proteger o poupador!!! Lula está sempre ajudando o povo: quando faz uma coisa e também quando faz o seu contrário.

Mas por que mudar a poupança agora? O que aconteceu na verdade? É que a crise está aí, com o despertar súbito e tardio do governo para a necessidade de reduzir freneticamente a Selic — o que antes parecia ser um pecado de lesa economia. A poupança está rendendo 0,64% ao mês, e os fundos, descontado o Imposto de Renda, 0,55%. A poupança se tornou mais atraente frente à remuneração dos fundos de investimentos, atrelados a uma Selic em queda.

A classe média, coitada!, tende, então, a tirar dinheiro dos fundos de investimento e a colocar na poupança. Mas qual é o problema? Por que ela não pode fazer isso? É pecado? É errado? Não! O problema é que, em última análise, o governo não terá como rolar sua enorme dívida interna sem voltar a elevar os juros. E os juros têm de cair. Sim, é com o dinheiro dos fundos, da classe média, que o governo alimenta a gastança pública. Alguém pensou em reduzir gastos nesse tempo? Não! Todo o esforço foi para elevá-los.

Mas o Brasil não tinha atingido o nirvana? Não havia solucionado o problema do déficit externo e ainda afugentado, por tabela, o risco de não rolar sua dívida interna? Os investidores externos não haviam se apaixonado tanto pelo país que jogavam dinheiro quase de helicóptero? É... Essa fase acabou — e muita gente alertou para o seu fim. Enquanto ela durou, o governo não reduziu seus gastos nem os juros. Agora é obrigado a fritar o peixe (reduzir a Selic) e olhar o gato (tungar a poupança). A vesguice custa caro. E o poupador pode ter de pagar.

É ilegal mexer na poupança? Boa coisa não é. Existe a tal lei de 1991 prevendo essa remuneração de 0,5% ao mês. Governos, de vez em quando, mexem na remuneração dessa modalidade de investimento. Alguns legalmente. Outros nem tanto. Lula disse em Nova York que pretende alterar as regras de maneira a proteger o pequeno poupador — e, suponho, atrapalhar a vida da classe média. O que ele quer dizer com isso? A menos que vá criar uma Taxa Zelite e uma Taxa Povão, todos ganharão menos igualmente. Em 2007, quando caiu a remuneração, o “povo” que cobrou a mudança mais enfaticamente é aquele que faz passeata nos corredores da Frebaban. Eesse “povo” também não vê muita graça na migração do dinheiro dos fundos para a poupança.

E, claro, não deixarei, como sempre, de, estando neste ponto, dar uma espiadela na política. Já imaginaram um PT na oposição, com, sei lá, os tucanos e os democratas ameaçando reduzir os ganhos da poupança para “proteger” os poupadores? “Ah, Reinaldo, dado o que se tem aí, é o melhor a fazer”. É? Ainda que seja, é preciso chamar as coisas pelo seu nome.
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