quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Igreja é relevante hoje?

Por Anderson Gonzaga

Ontem eu e minha filha de doze anos conversávamos sobre a História.
No meio da conversa veio à tona a Reforma do século XVI e suas conseqüências para o mundo. Lembramos um pouco da herança que Calvino e os reformadores nos deixaram, desde a volta às Escrituras, passando pelos princípios administrativos, princípios sanitários, alfabetização ("ao lado de cada igreja, uma escola"), empreendedorismo, a valorização do trabalho, etc. Isso transformou a Europa e a sociedade como a conhecemos hoje. Falamos da colonização do Novo Mundo pelos países católicos e protestantes e a diferença que este fato fez na situação atual dessas ex-colônias. Observamos que não existe nenhum país de colonização católica que figure hoje no primeiro mundo (que coisa, não é?). Foi uma conversa boa e no final pude ver um brilho nos olhos dela ao entender de uma maneira muito prática o poder de Deus para transformar a realidade do homem através do evangelho.
Aquilo a encantou.

Depois disso, fiquei pensando na realidade que a igreja evangélica vive hoje. No domingo passado fomos a um almoço beneficente na congregação Água Viva e, enquanto procurávamos o templo, pude ver a enorme quantidade de igrejas evangélicas espalhadas por todos aqueles bairros. Placas com os nomes das igrejas mostravam a diversidade de tendências delas, (algumas oferecendo, já na fachada, algo mais do que "apenas" o evangelho). Apesar do crescimento numérico espantoso, fica a clara sensação de que isso não influencia de modo positivo o país em que vivemos.

É fácil ver que mesmo igrejas históricas com princípios doutrinários fiéis às Escrituras têm sido pouco relevantes.
Quando penso em relevância, não é aquele "algo novo, pois só o evangelho não basta" que muitos têm oferecido no cardápio variado do "evangeliquês" nacional. Não é adotar uma camaleônica agenda moderninha e politicamente correta para agradar gregos e troianos.
Ser relevante é ser fiel a Deus em toda e qualquer situação. É ser voz profética a clamar no deserto de corrupção moral em que o país mergulhou. É viver a vida sem relativismos, sem concessões e dizer que há, sim, absolutos. É não temer a perseguição em meio ao obscurantismo que parece florescer no país, onde certas "minorias" tentam impor uma ditadura branca ao legislar inclusive sobre opinião.

Não ouvi a voz da igreja protestar quando o presidente Lula convocou, por decreto, a primeira conferência nacional dos homossexuais, com maciça presença de ministros, incentivo e financiamento públicos. Nem mesmo protestamos quando o ministro Temporão, da saúde, alardeou que a cirurgia de mudança de sexo será feita de graça, pelo SUS, num país que não consegue tirar as macas dos corredores dos hospitais, nem deter o mosquito da dengue alegando falta de recursos. Não ouvi a voz da igreja protestar quando surgiu o escândalo dos mensaleiros. Não ouço a voz da igreja se posicionar duramente contra a maré desenfreada de sensualidade e materialismo despejada pela TV aos olhos de nosssas crianças. Não ouço o protesto veemente da igreja contra os mercadores da fé, contra o sincretismo moderno que insulta a Deus e está criando uma pseudo-religião humanista da satisfação aqui e agora.
E tantos outros "Não protestos" se fazem presentes no nosso dia-dia, nos acusando de estarmos tomando a forma desse mundo, nos conformando mesmo com ele.

Nos falta a ousadia que moveu os reformadores, o inconformismo, a ruptura com o sistema vigente. Nos falta chamar o pecado de pecado. Nos falta usar nossos ociosos templos como escolas durante a semana, escolas verdadeiras que formem pessoas integrais intelecualmente, moralmente e espiritualmente. Talvez nos falte coragem para sair da nossa zona de conforto, e ir lá bater nas portas do inferno.
Nos falta a santificação, sem a qual ninguém verá a Deus.

Talvez devamos deixar de ser "os evangélicos" para sermos novamente reconhecidos como Protestantes.


Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.

Nenhum comentário: